Capela Sagrada Família

Dionísio Ferreira da Silva, o 'Inquilino de Deus'


No quilômetro 14 de uma estrada que leva o nome de "Alegre", encontra-se a Capela Sagrada Família, outra construção de grande valor histórico para o município de Mandaguari e que no início da década de 60 foi abrigo de fé para aproximadamente três mil moradores da zona rural.


Dispondo de um amplo espaço interno, que conta com 300 metros quadrados, engana-se quem pensa que o local, antigamente tão povoado e movimentado nos finais de semana está totalmente abandonado. O lavrador, Dionísio Ferreira da Silva, 64, está há dez anos na capela e fez da casa de Deus, também sua morada.


Ele explica, enquanto escuta um velho rádio à pilha e descasca uma porção de feijão andu que será o seu almoço, que cuida com carinho do lugar. "Sempre morei no sítio e morar aqui é uma bênção, pois além de evitar que pessoas ruins venham para cá e destruam tudo, eu tenho onde ficar. A capela precisa de mim e eu preciso dela".

O lavrador conta que nem sempre almoça e que só come o que planta ou, o que algumas pessoas da cidade levam para ele. A água é outro produto em falta. Para saciar a sede , Dionísio vai até o córrego da região. Ele ainda reaproveita a água da chuva.

Mesmo com tantas dificuldades, Silva deixa claro que não pretende sair nunca dali. "Aqui é o meu lugar. É aqui que eu vivo a minha vida do jeito que eu gosto. Não tenho nada a reclamar. Às vezes falta uma coisa ou outra, mas as coisas são assim mesmo".

Um relógio de parede estragado e marcando sete horas, horário da missa, parece dar indícios de que não é somente ele que parou por ali. A estrutura da capela está comprometida, mas, mesmo assim, mantém com simplicidade os traços do passado.

Entretanto, as paredes da antiga capela - que foram rebocadas, segundo dizem os moradores da região, com uma mistura de massa e sangue de boi estão descascadas, enquanto que os vidros apresentam-se todos quebrados ou com avarias.

Silva esclarece que faz de tudo para preservar a capela na qual ele mesmo participou de tantas missas. Porém, ele confessa que o lugar que tanto aprecia, precisa de cuidados. "Faço o que posso para preservar. Tudo o que eu queria é que alguma ajuda viesse para cá, porque sozinho eu não dou conta do recado".

É vivendo dia após dia nessa rotina incerta e difícil que Silva descarta a afirmação de que vive uma vida solitária. "Eu acredito em Deus. Ele está aqui comigo. Não estou sozinho", finaliza o privilegiado e já ansioso pelo almoço, inquilino de Deus...

Fonte:http://www.odiario.com
Escrito por Fábio Castaldelli